sábado, 14 de julho de 2012

Um carnaval no engarrafamento




Eram tão poucos dias que ainda se podia contar em horas: fazia 48 horas que eu tinha voltado a Brasília, e eu estava uma chata. Mais que isso, eu estava infeliz. Ou mais: eu estava com raiva.

Eu olhava para os prédios da W3 e ficava com raiva. Os prédios, as árvores todas iguais me irritavam. As perguntas das pessoas, a alegria das pessoas. Era ingrato, era bobo, eu sei – mas era assim apesar de mim.

Aí uma hora eu estava dirigindo e no rádio tocou Osvaldo.

Uma vez eu escrevi na coluna do Noblat como tudo fica mais leve quando não estamos implicados - como a beleza é mais visível vista de longe. A música do Osvaldo foi o antônimo disso.

Por todo o excesso de dramaticidade das letras, pela musicalidade fácil demais e sobretudo por Lua e Flor, Osvaldo Montenegro é uma referência musical negativa. É difícil admitir em público que se gosta, é difícil defendê-lo das críticas.

Mas paciência: a minha adolescência em Brasília, no final da década de 80, teve a ver com curtir Osvaldo. Fazer lual, dançar no Galeria, acompanhar a mistura de musical com teatro com sonho que eram os espetáculos do Osvaldo, sonhar em ser menestrel e em, numa tarde quente, ir-me embora de Brasília num submarino no Lago Paranoá.

É o tipo da coisa que, depois que a gente cresce e vira meio roqueiro metido a gostar de bandas desconhecidas e levemente depressivas a gente não quer muito lembrar - nem falar a respeito. A gente não quer mais se implicar com isso, mas...

Mas de repente vem a música do Osvaldo no rádio e você dirigindo pelo eixinho de cima, vendo passar os predinhos todos iguais, as arvores verdinhas cheias de sombra todas iguais, o céu azulzão lá em cima, os quadradinhos das janelas e, caralho, você gosta.

Dentro do peito você briga feio com você mesma e acaba ridiculamente chorando - para, pior de tudo, ainda por cima ser acusada de ter se emocionado com a música boboquinha do Osvaldo, a música que saiu do rádio, te agarrou pelo pescoço, deu três sacudidas e murmurou no seu ouvido: ei, para de brigar. Você chegou.

Faz seis meses que eu cheguei. Eu parei de brigar comigo mesma. E, sinceramente, até aqui, tudo bem.

12 comentários:

Unknown disse...
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Unknown disse...

E esse gostar está se revelando no novo blog QUADRADO, que eu adoro. Vc precisava desse tempo é td igual e td diferente.

Felipe disse...

Eu lembro muito do oswaldo no tal festival dos festivais, em que ele chegou aos finalistas cantando "e voa condoooooooooooor". Fiquei muito triste quando ele perdeu pra tetê espíndola cantando "escrito nas estelas" :)

Beijocas!

Lali disse...

Carol, você descreveu o que eu senti quando cheguei, no ano passado. Mas, mais do que chata, eu estava insuportável: grávida e com raiva. Já amenizou, mas ainda sinto um aperto enorme. Talvez seja mais difícil porque não tenho lembranças tão antigas de BSB, mas estou me esforçando para voltar a gostar. As vezes acho que Londres foi a melhor e a pior coisa que me aconteceu, porque antes eu não tinha referência, e era mais feliz na minha ignorância...

Ana Chalub disse...

O Oswaldo é um chato. Mas o que está em questão é outra coisa e fico feliz em saber (e perceber, no dia-a-dia) que você chegou, sim, que está bem aqui, de olhos abertos, vendo e reparando tudo o que tem de bom e ruim nesta linda cidade chamada Brasília. Seja feliz, minha amiga!!!

Amanda disse...

As grandes coisas aparecem bem grande pra gente reclamar: trânsito, corrupção, etc etc não preciso nem continuar. Mas daí as pequenas coisas chegam de repente e nos pegam desprevenidas - uma música, um cheiro, um carro da pamonha que passa, um vizinho antigo que cumprimenta, um sabor que só tem na infância. Acho que é isso que chamam de raízes.

Miss G. disse...

Ai como é bom ter alguém pra compartilhar. Não ando com raiva. Ando triste. Ou tristonha... e às vezes revoltada com vontade de jogar tudo pra cima e começar uma revolução. Mas dai vou passear no eixão, no parque, ou passar o fim de semana paparicada pelas tias no interior de Minas e, mesmo sem ouvir o Oswaldo (tinha uma conhecida no orkut que teve a uber-coragem não só de dizer que gostava, mas de chamá-lo de Mestre - com M -, desde então, só me refiro assim a ele), fico em paz.

Andréa disse...

Carol, eu gosto do Oswaldo kkkk. E tudo bem. Bom que agora você se sinta mais presente.

Bjs

ellen disse...

desistiu do blog? :(

RC disse...

Caramba, mesmo só conhecendo do blog, acho que a vi (reconheci) na CD outro dia!

Carol Nogueira disse...

Gente, continuo me impressionando - e agradecendo internamente - por vocês continuarem vindo aqui. É lindo demais. Beijos pra cada um dos queridos todos. Ellen, não desisti. Voltarei sempre que algum sentimento profundo pedir um comentário pro vazio cibernético.
RC, é bem capaz - já disse aqui que trabalho lá? Você também? O mundo se encontra naqueles corredores, né? ;)
Beijos a todos!

Carol Nogueira disse...
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