quinta-feira, 24 de maio de 2012

De ilusões e livros perdidos



A primeira coisa que precisa ficar clara desde o início é que eu sou uma pessoa que perde coisas. Não há nada que eu possa fazer a respeito. Eu perco. E me odeio, choro, sofro, tento ser mais atenta - mas continuo perdendo.

Eu perdi três livros da biblioteca demonstrativa. Eu sei que não se deve perder livros de bibliotecas, mas eu não escolho o que eu perco. Eu perdi - e não é a primeira vez. Quando perdi um livro da biblioteca de Paris, a bibliotecária me disse: "ele custa 15 euros" e eu paguei com um cheque endereçado ao Trésor Publique. Mas aqui em Brasília foi diferente.

O protocolo é: você se vira para devolver o livro. O mesmo livro. Caso esteja esgotado e você não encontre o mesmo livro, você tem que comprar outro livro que a biblioteca queira - e é ela quem escolhe o título.

No caso, ela escolheu um título que demora vinte dias pra chegar nas livrarias de Brasília. E que custa 50% a mais que os outros livros que eu tinha emprestado. E a multa de atraso ($ 0,50 por livro, por dia de atraso) continua correndo - minha dívida já está em $ 51.  Sim, porque eles têm um sistema de email que te alerta quando você tem um documento atrasado - e esse sistema não alerta imediatamente quando você atrasa, mas um mês depois. O que também é diferente de Paris - lá é como se o sistema quisesse de fato te lembrar de devolver o livro, e não faturar em cima de pessoas irresponsáveis como eu.

Pelas minhas contas, se a livraria Cultura for camarada, devo morrer em $ 200 pra devolver os três livrinhos que peguei emprestados na biblioteca demonstrativa. Fico pensando no que isso representaria pra um estudante pobre. Será que estudantes pobres podem se dar ao luxo de morar no mundo da lua como eu?

Mês passado fiz uma matéria que mostra que 75% dos brasileiros nunca pisou em uma biblioteca. Nunca. As pessoas lêem ainda menos do que liam há dez anos, diz a pesquisa. Eu tive vontade de chorar fazendo a matéria. E ontem eu chorei de verdade.

7 comentários:

Lud disse...

Que livros você perdeu? Estou me desfazendo da minha biblioteca (chuif!), e se eu tiver eu te dou.

Você tentou olhar se o Sebinho (www.sebinho.com.br) tem pra vender? Ou a Estante Virtual (www.estantevirutal.com.br)?

Beijos e boa sorte!

Carol Nogueira disse...

Lud, que fofa. Mas que tristeza enorme desfazer sua bibli. Não tem jeito mesmo de manter?
Já procurei no sebinho, mas não rolou. Vou olhar na estante virtual, quem sabe? São livrinhos bem específicos de criança, um é mais conhecidinho, chama "O reizinho mandão", da Ruth Rocha. Mas brigada por oferecer! Um beijo grande!

Andréa disse...

Eu também acho lamentável. Ampliar a rede de bibliotecas nos municípios é importante (o ex ministro Gil abriu grande vantagem aqui), disponibilizar agentes de leitura também, mas o problema é muito maior: é de base. Se as ações não atingirem os pequeninos (nossos futuros leitores) desde beeem cedo, esse hábito nunca vai florescer no país. Infelizmente esse panorama só será modificado no longo prazo, quando a leitura for inserida bem próxima da alfabetização, num trabalho conjunto entre as pastas da cultura e da educação.

Lud disse...

Carol,
pois é, tô morrendo de pena, mas vou viajar aí pelo mundo, então... E curto muito doar livros pra bibliotecas, porque eu sou rata de, rs.

"O Reizinho Mandão" é ótimo! Me lembrei da infância agora. Que pena, esse eu não. Serve A Bolsa Amarela? =) Boa sorte na busca!

Mari disse...

Pelo menos um dos livros perdidos da biblioteca parisiense foi achado! Nem tudo que se perde permanece perdido e ja que foi substituido mesmo, agora vc pode chamar de seu sem problema algum!

Anônimo disse...

Acredito que uma pessoa que pega algo como empréstimo, tem a obrigação de devolvê-lo. Quem não tem capacidade para fazê-lo, evite pedir emprestado, compre!
Portanto, considero sua atitude errada. Seja honesta e pague a mula ou compre o livro que, por irresponsabilidade você nunca devolveu.

Carol Nogueira disse...

Querido anônimo,
Eu paguei tudo o que devia e quando, dias mais tarde, encontrei os livros, os devolvi à biblioteca, entregando assim em duplicidade o que devia. Fique tranquilo que minha única irresponsabilidade é dividir com estranhos como você minhas reflexões mais íntimas.
Beijos,
Carol